segunda-feira, 30 de outubro de 2000

Fim de tarde

Olho as crianças correndo atrás dos pombos; um avô brincando com seu neto e pessoas apressadas.
Esta não é uma praça como as de São Paulo mas, tem de tudo um pouco. Há alguns minutos passou por aqui um "Batman" com sua mochila, levando o que deveria ser sua marmita usada no almoço, deve estar voltando para casa depois de um longo dia de serviço...
Vejo, também, um palhaço que parece estar começando no ramo agora, ou melhor no ramo das promoções de loja fantasiado de palhaço, pois, parece estar querendo criar coragem de falar em público e age com certa timidez. Está num canto onde poucas pessoas passam, ensaiando seus textos:
- Promoção! Promoção! Lojas de tecidos "TAL", as melhores confecções...
Os sinos da igreja começaram a tocar, anunciando seis horas da tarde e, em seguida, a praça começa a ter uma sonoridade diferente, parece até uma música. São vozes...
Esta é a ora que pessoas comemoram com alegria o fim do dia, alguns, por ter sido muito bom e produtivo, outros, por não aguentarem mais esperar o dia acabar.
E eu, agradeço mais um dia, se não produtivo financeiramente, ao menos, um belo dia, um belo e florido dia, em que vi pessoas sorrindo.

Sorocaba - SP, 30 de outubro de 2000. Praça Cel. Fernando Prestes.

terça-feira, 24 de outubro de 2000

Tudo por uma latinha

Devia ser umas 11:00h e muitas pessoas já estavam almoçando, quando, chegou uma mulher com uma sacola plástica, cheia de latinhas de alumínio. Aproximou-se da senhora que estava sentada tomando refrigerante enquanto esperava ficar pronto seu lanche, um "cachorrão", como dizem em Sorocaba, e perguntou:
- Moça, sê me dá a latinha?
E a senhora respondeu:
- Dou, mas está cheia!
Não tem pobrema, eu espero! Afirmou a primeira parando, em pé, a um palmo de distância da senhora que ficou constrangida e pediu para a mulher dar uma volta e depois retornar, para pegar a latinha.
Que nada, a mulher não arredou pé dali.
Quando o lanche chegou a mesma sentou colada a senhora, olhou a latinha e, insistiu:
- Mas a senhora não vai me dá a latinha?
A essa altura a senhora já estava irritadíssima, guardou o lanche, bebeu o resto do refrigerante e foi embora, levando consigo a latinha.


Sorocaba - SP, 24 de outubro de 2000. Praça Carlos de Campos

Era glacial

Os dias foram passando e com eles algumas esperanças.
As empresas em que havia feito entrevistas, não me retornaram as ligações telefônicas prometidas, com as informações sobre o processo de seleção. Nas que insisti com contatos telefônicos sempre desconversavam com argumentos de que o processo estava suspenso, que quando retomassem o processo entrariam em contato, etc...etc...etc...

segunda-feira, 23 de outubro de 2000

Esperem....

Não quero falar de problemas e sim, de soluções, das coisas engraçadas e das descobertas que fiz quando passei a perambular pelas ruas.
Como fiquei muito tempo nas ruas entre uma entrevista e outra ou, à espera da hora de voltar para a república, passei a fazer algumas observações.

sábado, 21 de outubro de 2000

A república (sem patrão)



Cheguei em uma tarde, já tinha a indicação do lugar e havia ligado para o proprietário, marcando a hora do encontro na república, embora o mesmo insista em chamá-la de pensionato.
Era uma casa simples, nada demonstrava morarem lá, muitas pessoas, exceto, duas placas pequenas anunciando quarto para rapazes, nesta, e para moças em outro local, além, do telefone para contato.
No portão encontrei três senhores que conversavam, bem, na verdade dois escutavam um que filosofava, este, estava vestido com um velho paletó, já surrado pelo tempo.
Entrei, conheci os quartos disponíveis e optei por um que ficava no térreo, de frente para uma área de serviço e um banheiro.
Sentamos nas cadeiras dispostas na sala para que eu pudesse preencher um cadastro. Quando comecei a falar de mim o senhor disse:
- Não precisa, saberei melhor quem você é com o tempo!
Paguei e nos despedimos, entrei no quarto para apreciá-lo um pouco melhor e achei enorme o guarda roupas, depois descobriria que seria muito pequeno para as roupas que deveria trazer, e fui até a rodoviária buscar as malas .
Instalei-me naquela noite, cheio de esperanças e certo de que seria chamado para trabalhar no dia seguinte. Dormi sonhando que todos os problemas seriam resolvidos, com os frutos do trabalho, sabia que o caminho seria lento, mas, acreditava que seria positivo, que voltaria a ver minhas filhas com frequência, logo seria aceito pelos pais da noiva e poderia casar.

sexta-feira, 20 de outubro de 2000

Como tudo começou


Havia um menino, nascido em tempos de Beatles, época de guerra do Vietnam, do homem tentando ir à lua, da guerra fria, da morte de Martin Luther King, de ditadura militar.
Quando criança devorava livros, lia de tudo, bíblia, enciclopédias, livros científicos, dicionários, rótulos de produtos e bulas de remédios. Decidiu ser cientista, queria ter uma vida igual à dos grandes nomes que lia, Einstein, Fleming, Sabin, Pasteur.
Precisando trabalhar, deixou estes sonhos de lado, mas, continuou estudando. Quando jovem, mudou seus planos, queria ser juiz. Fazer justiça, pensava, é o que quero.
Estudou muito para isso, formou-se e, ainda na faculdade, embora homem adulto, sentia seu coração acelerar sempre que imaginava a possibilidade de fazer justiça.
Precisando trabalhar e cuidar de sua família, deixou este sonho de lado, mas, continuou sonhando e logo arrumou um bom emprego, contudo, o destino reservara algumas surpresas para ele e o rumo de sua vida mudou completamente.
Quando pensou estar crescendo, estava caindo;
Quando pensou estar evoluindo, estava involuindo.
Não roubou, nem matou, mas deixou seu coração se encher de rancor, de tristeza.
Caiu...
Foi até o inferno e voltou, voltou mais forte, mais puro, mais entusiasmado. Derrotou muitos fantasmas que o assombrara por longos anos.
Sabe que é capaz de realizar tudo o que quiser. Sabe que será o que quiser ser e fará o que se dispor a fazer.
Do mundo físico carrega pouca coisa, tendo apenas uns trocados no bolso e alguns papéis onde anotou tudo o que já fez e sabe fazer.
Conta sim, com fortes armas para vencer. O amor à vida e a fé na vitória.
É possível ver seus olhos brilhando de esperança.
É a história dessa esperança, dessa visão alegre do mundo, embora às vezes com um pouco de melancolia, que ele passa a nos contar.