Sexta Feira, 22/01/2010
Já estou trabalhando a cerca de 45 dias no CEAGESP.
É um "bico" já que não tenho vínculo empregatício e recebo por dia trabalhado.
Chego cedo para fazer as vendas dos produtos de um box.
Vendemos batatas e cebolas.
Nesta madrugada saio com chuva de casa e sigo mancando, com uma mochila nas costas onde guardo blusa, e material de trabalho e seguro um guarda chuva na mão de casa até o CEAGESP, 4,5km de caminhada, percebo que se alguém me ver andando, de blusa e mochila pretas, vai imaginar que é o quasímodo andando.
Depois das complicações da caminhada desta manhã, decido que preciso de um transporte, mais rápido e seguro.
Nem tanto por medo de ser assaltado. Não creio que alguém que não esteja drogado, possa pensar que uma pessoa que anda pela madrugada em um bairro afastado do centro, tenha algum dinheiro.
Quanto aos drogados, o melhor é estar atento à aproximação deles, pois, sempre são muito barulhentos e previsíveis.
O temor maior é com os cães. São inúmeros os cães de raças bem violentas que ficam soltos dentro dos pátios das empresas e quintais das residências, pelo caminho. Basta passar pela calçada para ver os dentes, a baba e sentir que eles são insanos e estão doidos para morder alguém.
Um cão desses não para o ataque enquanto não ver a vítima morta... ou ele morrer.
Assim, nos quarteirões onde sei que tem um desses cães de donos "doentes mentais" eu ando pelo canteiro centrar ou mesmo no meio da rua, para ter mais tempo para defesa, no caso de um ataque.
E a chuva continua, não é chuva forte que justifique chegar molhado ao trabalho.
É chuva de molhar bobo. Que pela distância e tempo de exposição a ela, molha completamente o corpo.
Mesmo as partes do corpo que deveriam ser preservadas pelo guarda-chuva, por ele ser velho, com algumas hastes quebradas e já quase em a impermeabilização não me protegem por muito tempo.
Goteiras escorrem pelo cabo, molham a manga, entram pela gola da camisa gelam o corpo.
Pelo menos os objetos pessoais e cadernos estão embalados em sacos plásticos.
Nenhuma carona aparece, mas, quem daria carona a alguém molhado andando a esta hora da madrugada por ruas escuras?
Penso um pouco, assoprando a poeira sobre minhas memórias e com a ajuda dela respondo a minha pergunta. Héhéhé!
Há muitos anos atrás, quando eu tinha 18 anos, em uma madrugada de chuva em Araraquara, quando voltava a pé da casa da minha namorada, que obviamente ficava muito muito muito distante da casa dos meus pais. (parece coisa do reino de Shrek) parou do meu lado um rapaz em um fusca branco, pedindo se eu tinha fogo (isqueiro pensei eu) e me oferecendo carona.
Como realmente tinha em meu bolso um maço de "John Player Special" King Size e um isqueiro, aceitei a carona.
Quanta gentileza e quanta coragem, pensava eu, enquanto tentava, em vão, fazer o isqueiro funcionar.
Acabei desistindo de acender o cigarro dele, quando ele começou a bater um papo estranho, falando de quanto o povo de São Carlos era mais liberal que o de Araraquara.
E me convidando para uma momento mais intimo em algum lugar!
Fiquei assustado com a proposta e desconversei alegando que tinha que trabalhar logo cedo, ao que ele rebateu mudando a proposta para uma rapidinha em alguma rua escura pelo caminho.
Minha resposta veio em uma única fração de segundo e acompanhada pela minha ação.
Pedi que parasse imediatamente pois por pura coincidência já estávamos passando pela porta de casa.
Agradeci o convite, já abrindo a porta do fusca e saltando, em dois passos, já estava do outro lado do portão (que por sorte estava aberto) e acenei com um tchauzinho camarada.
Fingi entrar e fiquei olhando de canto do olho pelo portão esperando ele sumir na rua.
Então, no segundo seguinte, passei novamente pelo portão e sai do quintal da casa que eu nem conhecia os donos.
Eram outros tempos, e os riscos diferentes. Eu ainda era jovem e bonito, e o bicho que queria me comer não era um cão raivoso.
Enquanto lembro da situação vivida, e começo a rir, sigo em frente, rumo ao trabalho do dia.
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