segunda-feira, 6 de março de 2017

Como evitar uma briga com o método BIC



Certa vez estávamos eu e o meu amigo Douglas, na Bicicletaria do Bidu, esperando sermos atendidos.
Chegaram dois meninos fazendo cara de malvado e provocando, querendo comprar briga.
Um deles tinha um pequeno problema, pois, só alguém com um parafuso solto ia provocar outros na porta de uma loja.
Enquanto ele avançava para cima de mim (sim eu era o alvo preferido dos malucos, pois era bastante popular entre as meninas do bairro) olhei para um lado, olhei para o outro a procura que algo que pudesse usar para impedir o ataque.
Foi quando encontrei uma tampinha de caneta BIC, jogada no chão.
Peguei a caneta e comecei a encenar, dizendo:
- Olhe! Antes de me bater, posso mostrar uma coisa?
- Duvida que eu quebro esta tampinha no meio?
O cara já ficou hipnotizado com a ideia!
Falei: - Posso te ensinar! Quer?
Ele fez gesto que sim e parou de avançar.
Coloquei a tampinha presa entre os dedos e dei um leve tapa na coxa.
Voou o clipe para um lado e a tampa para o outro.
O menino ficou admirado.
Juntei os pedaços, mostrei novamente para ele como fazer para ele quebrar uma tampinha também e ele agradeceu e foi embora.
Desde este dia, viramos amigos!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Cápsulas do tempo


Vejo as vitrines de algumas lojas, como capsulas dos tempos.
Nelas estão, expostas, uma partícula de um instante do mundo, uma moda que passou, um acessório que já foi novidade, um eletrônico que foi desejado.
Pen drives, de alguns megabytes.
Um relógio que saiu de moda.
Uma bike com menos marchas.
Coisas do passado, ali, esperando alguém que ainda tenha interesse.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Anonimato



Sentado na cafeteria, quase na porta do shopping.
20 anos depois de partir.
Muita coisa mudou e nada mudou.
Talvez, só eu tenha mudado, em partes.
Antes quando aqui vivi, estaria esta hora fugindo de rostos conhecidos e me escondendo dos rostos desconhecidos. 
A timidez em elevado grau, me apavorava.
Hoje, estou tomando café com o radar ligado, tentando detectar um rosto amigo.
Tarefa dificil, pois, tenho que cobrir cada rosto em minha memória, com as marcas do tempo que elas devem carregar hoje.
Muitos dos meus amigos, estão com a cara de seus pais ou de suas mães.
Eu, por outro lado, apesar de não mais me esconder, continuo com a mesma cara invisível, que sempre tive.

sábado, 10 de dezembro de 2016

Indiferença


Na famosa receitinha contida na letra da música "Os Anjos" da Legião Urbana, encontramos a indiferença como um dos ingredientes.


"Pegue duas medidas de estupidez
Junte trinta e quatro partes de mentira
Coloque tudo numa forma
Untada previamente
Com promessas não cumpridas
Adicione a seguir o ódio e a inveja
As dez colheres cheias de burrice
Mexa tudo e misture bem
E não se esqueça: antes de levar ao forno
Temperar com essência de espirito de porco,
Duas xícaras de indiferença
E um tablete e meio de preguiça"

Considero este o ingrediente mais cruel, pois, este não dá a chance do outro revidar, reagir, contra-atacar, como acontece com os demais ingredientes.
Uma relação, seja qual tipo for; entre marido e mulher, pais e filhos, sócios, etc, pode até prosseguir, mesmo com discussões, mesmo com atritos e desentendimentos, decorrentes da estupidez, da mentira, das promessas não cumpridas, pois, gera o jogo do empurra empurra sobre quem é o culpado, quem é o errado.
Um relacionamento pode prosseguir até mesmo, minado pela inveja e a burrice, então, nunca foi motivo para encerrar um relacionamento.
Espirito de porco até torna o convívio dificil e a preguiça que, se por um lado, desgasta uma relação, por outro, adia seu fim.
Como revidar a indiferença? Sendo indiferente com quem já não te dá "a mínima"?
A indiferença, primeiro congela o coração da pessoa que vai aplicar a indiferença contra o outro.
Depois contamina o coração do outro, agindo de dentro para fora na vítima. Paralisa qualquer tentativa de reação ao ataque e apaga aos poucos (o que é mais cruel) a chama que estava acesa no coração da pessoa.
A pessoa alvo da indiferença, começa, primeiro, querendo ser notada, compreendida, depois, passa a tentar achar sua culpa, achar o que ela fez de errado e depois, chega a conclusão que tudo nela está errado, afinal nada do que ela fizer, atrairá a atenção da pessoa que a trata com indiferença.
A pessoa atacada pela indiferença passa a se sentir um "morto-vivo".
E para o morto-vivo, que diferença faz, viver em uma casa ou na rua?
Ir para um lugar onde ninguém mais o veja ou até, por fim a vida que já não existe e da qual só restou a dor.
É o que começa a pensar a pessoa que recebe a dose diária desse veneno mortal, chamado indiferença.
Queria poder dizer aqui que pesquisei a questão e encontrei a vacina contra a indiferença.
Que bastava aplicar uma dose desta vacina nos seres humanos e nunca mais uma pessoa trataria a outra com indiferença, porém, esta vacina não existe.
No fim do processo de maturação e aplicação da indiferença, dois saem derrotados.
O primeiro, por tornar seu coração mais frio, com a falsa impressão de que se tornou mais resistente ao que ele considera agressão, perturbação, incomodo, da outra parte.
O segundo, por passar a desacreditar em si mesmo. Por perder a sintonia com quem ele verdadeiramente é. O que acaba por apagar sua chama interior.

Por sorte temos a cura para a indiferença que congela os corações.
Uma fórmula simples. De um único ingrediente.
Um único ingrediente, que é capaz de aquecer qualquer coração.
O amor!
O amor puro, o amor verdadeiro (não o amor enlatado, amor tetrapack, amor ad hoc), preencherá seu coração para viver sem aplicar ou sofrer qualquer dano provocado pela indiferença.

Vale uma pequena nota:
Amar é amar todos, inclusive a si.

Olhe mais uma vez para a foto que ilustra este texto, tente perceber, no exato instante da foto, quem está sendo ferido pela indiferença?

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Trilhos na noite


Araraquara, para quem não conhece, é cortada ao meio por linhas da antiga estrada de ferro.
Minha família, morava de um dos lados. O lado chamado de Vila Xavier.
Do outro lado, ficava o centro da cidade.
Assim, quando precisávamos comprar algo no centro, tínhamos que atravessar os trilhos e não era apenas uma única linha. Haviam várias ramificações. Várias de manobras, linhas secundárias, as de abastecimento no CEAGESP e a linha que conduzia as composições e máquinas para a gigantesca oficina de reparos e manutenção.
Existiam três "pontilhões" ou viadutos, como preferir chamar. Um da 22 de agosto, um da Barroso e um na fonte, que passavam por cima das linhas da estrada de ferro e um túnel ao lado da antiga estação ferroviária, que passava por baixo das linhas férreas.
Entretanto, quando morávamos na rua Ceará, lá quase perto do fim, ficava mais fácil cortar caminho pelos trilhos para chegar mais rápido ao Estádio da Ferroviária, nos dias de jogo, as piscinas da ferroviária nos dias de treino na escola de natação ou mesmo para curtir um dia quente.
Atravessar os trilhos, ali perto dos galpões da CEAGESP, era também o caminho mais curto para assistir shows no Gigantão. Gigantão é nosso estadio poliesportivo.
Passar por ali, de noite, no escuro, com o caminho iluminado somente pela lua e, as vezes, nem por ela, era uma aventura a parte.
Incontáveis vezes por ali passei, driblando pedras, tocos, molhando calçado em poças de água ou derrapando em lamaçais.
Lembro que em uma das noites, fizemos o "Warm Up" enquanto caminhávamos pelos trilhos, compartilhando entre os amigos, uma garrafa de licor de menta.
Em outra noite, já depois de termos nos mudado da rua ceará para a 22 de agosto, fui atravessar os trilhos, acompanhado de uma recém paquera e pelo meu "pretenso futuro cunhado"que  já estava considerando nosso encontro um noivado oficial.
Esta noite foi super divertida, porque, não sei de onde ele tirou da cabeça, eu deveria ser filhinho de papai e não devia ter experiência em atravessar trilhos.
Ele foi dando dicas de como caminhar nos trilhos. Querendo ensinar e proteger o seu "futuro valioso cunhado". Ia orientando onde pisar, pelo caminho todo, até que chegamos ao local onde um portão alto de grade, separava duas áreas dos trilhos.
Ali teríamos que pular escalar e transpor o portão.
Ele passou. Passou a minha paquera e ele ficou olhando para mim.
Deu suas orientações de como escalar e ficou todo temeroso se o filhinho de papai ia conseguir vencer tão enorme e difícil obstáculo.
Quando ele piscou, me viu do lado de lá do portão.
Acho que até hoje ele nem imagina o que aconteceu.
Ele não tinha perguntado se eu já havia pulando algum portão, alguma vez na vida. Sequer lembrou de perguntar se eu conhecia os trilhos ou já tinha passado por lá antes.
Tinha partido ele, do pressuposto que era "burguesinho" e nada sabia.
Então, para ele foi um espanto quando descobriu que eu tinha intimidade com os trilhos da estrada de ferro em noites escuras.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Partiu



Era um cara tão lento de pensamento ou talvez tão grande de coração que perambulou quase duas décadas pelas ruas de Soracaba, até perceber que devia deixar a cidade para trás e seguir seu caminho.
Talvez não tenha percebido que onde entrava era rejeitado, talvez tenha percebido e insistia por bondade.
Não havia, ninguém na plataforma de embarque para se despedir dele.
Sem beijos trocados, sem lágrimas roladas, sem lenços acenados.
Foi sem mágoa das portas que nunca foram abertas. Sem rancor das mãos nunca oferecidas.
Lembro, contudo, que ele foi, com um esboço de sorriso no canto da boca, como quem ri por dentro, por guardar um segredo.
Talvez, como que sabendo que quem perdeu com sua partida não foi ele.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

A ex nota de um real


Você descobre que está, realmente, no fundo do poço, quando, abre a gaveta aonde guarda as coisas que separou para usar em caso de emergência e, além do canivete, dos palitos de fósforo, do passe de metrô, você encontra somente aquela nota de R$ 1,00, novinha, que você guardou sem dobrar.
Poe ela na carteira, vai até a padaria e a balconista te avisa que aquela nota não vale mais nada e você tem que voltar sem o pão, para casa.