domingo, 10 de dezembro de 2000

Carioca e a touca

Tem um morador da pensão, já senhor, que se faz passar por carioca típico, malandro, aposentado por invalidez, ainda jovem, vida boa, sai às noites para ir nas gafieiras em busca de uma senhora rica que caia na dele e o sustente. É super engraçado ver ele ali, pois, tem um jeito afeminado, vive a maior parte do tempo (quando está na pensão), na cozinha preparando seus pratos ou lavando a louça.
Só anda com um roupão bege pela casa e chinelos e as vezes, uma touca na cabeça. Esse adora desfilar pelos corredores fazendo barulho e clamando por atenção, além de falar EXTREMAMENTE alto, principalmente ao telefone (ele tem um telefone só dele, dentro do quarto). O passatempo preferido dele é encher a boca com água, gargarejar pelos corredores e engolir ou cuspir na pia da cozinha.
UGH! É a mesma sensação que tenho, ao ser acordado pelos gargarejos.

O banho da princesa

O rapaz que trabalha numa firma de vigilância à noite e está sempre estudando é o que tem o maior ritual para o banho.
Desce ele do seu quarto (que fica em um comodo construído no teto da casa), com suas roupas, toalha e um saco de plástico, desses de supermercado, que usa como necessaire. Pendura na porta do banheiro e sai para conversar com os outros na cozinha. Ele também fala alto como o Carioca, parecendo ter sido criado do lado de uma cachoeira.
Quando entra definitivamente para tomar banho, leva junto uma cadeira de plástico, para sentar embaixo d'água.
Liga o chuveiro, molha o corpo e senta no vaso sanitário para fazer suas necessidades, enquanto a água cai... arrota, dá descarga e entra na água, passa creme de barbear no rosto e vai para a pia se barbear. Termina de fazer a barba e volta para o chuveiro. Volta e meia canta o mesmo trecho de um pagode romântico "Eu era feliz..."
Sei de todos os movimentos pelo barulho, pois, o banheiro fica ao lado do meu quarto. Só fico curioso para saber o que ele faz com a cadeira? Será que ele se depila ou fica esticando o corpo debaixo d'água, se achando a garota do flash dance?
Gargareja, canta e começa a entoar sons vocálicos:
- HUM, HUM, AHUMMMMMMM!
Gasta tanto tempo que eu imagino ser possível coreografar os movimentos dele e transformar esse banho em um ballet.
Quando ele sai, deixa o banheiro totalmente molhado, água por todos os lados, na janela, na tampa do vaso sanitário, no acento, no espelho, nas paredes. Parece até que ele joga água nas paredes para espantar os pernilongos.
As vezes preciso usar o banheiro depois e gasto metros e metros de papel higiênico para enxugar o acento e a tampa do vaso sanitário.

sábado, 2 de dezembro de 2000

Respondendo a altura

Em uma imobiliária ouvi o seguinte diálogo entre um funcionário e o cliente, que retornara de uma visita que fez a uma casa que estava para locação nesta imobiliária.
-Eu fui lá, mas, não tem condição!
- Como assim?
- Tá com portão quebrado, muro, janela, tudo arrebentado, não tem jeito não, se eu vô pagá eu quero um lugar descente... essa casa nem que me derem de graça eu não aceito!
A funcionária tomando as dores diz:
- Mas por esse preço o senhor não vai achar uma casa perfeita que esteja tudo certinho.
- O Cara que colocou essa casa para alugar...quem tem coragem de colocar uma casa naquele estado para alugar deve ser doente da cabeça. Responde o cliente.
- Senhor, felizmente nem todo mundo pensa como o senhor. Tem gente que paga, tem gente que não reclama.
- Mas essa eu não quero!
- Mas, pelo preço que o senhor quer pagar não vai conseguir nenhuma.
O cliente se levantou nervoso e foi embora.
Ai essa funcionária se levante, vai até onde estão outros dois e passa a "ensinar" eles:
- Olha! Vocês estão autorizados a responder a altura com o cliente.
Não pode deixar ele ir xingando assim o escritório, não!
Responde mesmo, senão eles montam cavalo.
E depois isso pode fazer ele sair falando mau da imobiliária para os outros. Não deixa não!
Ele não pode falar assim na nossa empresa.

Legal! Fico imaginando qual a imagem que o cliente tem agora, da empresa, já que ela falou a "altura" com ele.

Sorocaba, 02 de 12 de 2000