quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Negocie a meia noite




O ano era 1996, eu trabalhava para o UNIBANCO em um departamento de Recuperação de Crédito.
Nosso trabalho, em resumo, consistia em negociar com clientes que estavam inadimplentes, procurando encontrar uma forma do cliente honrar seus compromissos financeiros (eufemismo né?) Sim, eramos cobradores!
Procuro ser organizado, sigo métodos em tudo o que faço e ao longo do treinamento fui compilando informações.
Reuni essas informações em quadros, organize-as conforme melhor me servissem, e reduzindo a letram consegui colocar todas em duas folhas de papel.
Na primeira, colada na capa da agenda (do lado de dentro) ficava o resumo de operações de uma HP12C.
Essa compilação realizei em duas noites em que fiquei hospedado em um hotel, durante a primeira reunião de equipe da qual participei e na qual recebi, para uso uma calculadora HP12C que vinha, na época, embalada em uma caixa de papelão, com um "grosso" manual (em vários idiomas, exceto o português).
Traduzindo do espanhol, preparei o manual e imprimi uma cópia para mim e algumas para alguns colegas de trabalho.

Na contra capa da agenda, eu havia colado uma outra folha, com as instruções como: Roteiro de entrevista, rotina, organização, etc etc.

Como sou místico, acrescentei em um dos quadros um resumo dos melhores horários para se meditar à respeito de negociações de crédito.
Sendo assim, estavam anotados os horários nos quais eu poderia sentar calmamente e mentalizar para o sucesso da negociação que havia iniciado ou que deveria iniciar.
Quando um amigo pediu para passar cópia desta folha para ele por na sua agenda, os horários para a meditação foram juntos, então, expliquei, um pouco, como funcionava esta tabela de horários.

O tempo passou e certo dia, conversando com uma das novas contratadas da equipe ele comentou que o método de treinamento da equipe tinha mudado.

O novo contratado não mais ia com um negociador para uma região, aprender por uma semana como negociar e sim, ficava em São Paulo, recebendo treinamento em uma sala.
Durante uma das "palestras" de treinamento, foi apresentado a todos, uma compilação de instruções que seria muito útil colarem em suas contra capas das agendas, para eventuais consultas...
Ela disse que o "palestrante" não soube explicar direito o que significavam os horários anotados na tabela, mas, que elas foram enviadas pelo "Diretor".
Imagina o susto dela quando leu que deveria negociar com o devedor de madrugada!

Confira abaixo, as tabelas:



domingo, 24 de julho de 2011

Resgatando emoções




Abro as gavetas, retiro roupas e vasculhos os fundos.
Estou à procura de fotos, slides e monóculos, documentos e cartas,
Qualquer imagem que conte uma história.
É tudo o que preciso neste momento.
Me alimentar de memórias.
Tempos de infância em preto e branco, depois coloridas muito coloridas
agora desbotadas...
Slides de tempos mágicos, muita luz, sol e viagens incriveis.
Fotos das minhas filhas, de quando estive por perto e de quando estive longe.
Lembranças de uma nova vida que surgia e de esperanças de ser o caminho definitivo.
Aos poucos foram se tornando mais escassas, uma aqui outra ali, recebida de presente em datas festivas ou de amigos.
Não deixei de fotografar, pelo contrário, os registros se tornaram digitais.
Se antes em datas festiva, o normal era (com sorte) ter 12 registros, agora são centenas.
O lado bom é ter registro de tudo e poder tirar várias fotos seguidas (para garantir o melhor registro).
O lado ruim é a banalização do registro. A perda da importância de marcar um fato para sempre. De viver o momento como único. Cria-se a falsa ilusão de que tudo pode ser sempre refeito, corrigido ou reeditado.
Arrumo a pilha de imagens na mesa.
Preparo o material necessário para transportá-las para o mundo digital, onde os antigos, novos registros, farão companhia para os novos, antigos registros.
Por sorte não ficarão mais, guardados no fundo das pastas virtuais em uma partição esquecida de um HD.
Estou depositando muitas esperanças nos tabletes.
Acho que finalmente voltaremos a levar albuns em encontros para mostrarmos uns aos outros.
Vamos ser sinceros... não era prático levar um notebook, muito menos confortável, passá-lo de mão em mão em um encontro ou festa.

Dias, seguidos "scanneando", editando, organizando em álbuns, dando nomes e datas.
Só depois espero sentar calmamente em um canto, relaxar e...
Reviver uma vida!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Seu nome não está na lista



Quando a gente está desempregado, se submete a cada coisa!
Enfrenta cada parada maluca, só para conseguir um emprego...
Principalmente quando o dinheiro acaba e no desespero paramos de raciocinar direito.
Este é o pior momento na vida de um desempregado. É quando ele já não tem grana nem cabeça para participar de processos seletivos e mesmo assim teima em enfrentar mais um.
Assim também foi comigo!
Em uma dessas situações, quando eu já tinha mando currículos para tudo quanto é lugar, vaga anunciada em jornal, página de RH de empresa na internet, site de empregos, amigos e a sola do sapato já estava gasta de tanto bater de porta em porta nas empresas e de entregar currículos nos balcões de empresas de seleção de pessoal e nem me lembra mais para onde mandou, recebi uma ligação, no final da noite, me convocando para uma entrevista na manhã seguinte às 8:00h da manhã em uma recrutadora de Cajamar - SP.
Nesta hora eu me tornei uma máquina de "sim".
- Tem veículo próprio?
- Sim!
- Tem disponíbilidade para viagens?
- Sim!
- Conhece a empresa "X"?
- Sim!
- Gostaria de atuar como vendedor desta empresa?
- Sim!
- Pode estar aqui amanhã cedo para uma entrevista?
- Sim!
- Anote meu telefone.
- Sim!
- Procure por mim "fulana", quando chegar.
- Sim!
Ainda bem que ela não perguntou se eu estava preparado para dar a "bu...) porque no desespero eu também diria "Sim!".

Desligo o telefone e começo a pular de alegria!
Era a primeira entrevista em meses de envio de currículos.
Finalmente! Uhu! Finalmente!
Quando a adrenalina começa a baixar, vou tomando consciência de que, não tenho carro, não tenho dinheiro nem para ir de busão para lá, não sei como chegar e nem como chegar.
GPS ainda era coisa que só as empresas e ricos tinham e nesta época eu estava tinta na impressora, para imprimir o percurso do Google Maps.
Inicio uma longa e delicada negociação com a minha esposa que, nesta época também não estava empregada.
Juntamos nossos trocos, para eu poder por gasolina no carro dela e ter dinheiro para pedágios, estacionamento e um lanche.
Separo um kit entrevista, pego um bom e velho mapa rodoviário e vou dormir mais cedo, para estar logo ao amanhecer na estrada.
De Sorocaba-SP, onde moro, até Cajamar, são 106Km pelo caminho mais rápido que é de quase duas horas, percorrendo a Castelo Branco até Osasco e depois seguindo pela Anhanguera, de volta para Cajamar.
Beijos de boa sorte, dedos cruzados e lá vou eu, cantarolando pela estrada.
Chego, como havia planejado com 30 minutos de antecedência.
São 7:30h, penso em comer alguma coisa, mas desisto, para não me atrasar. Vou para a porta da empresa de seleção e... ela está fechada!
Volto para o carro, estrategicamente estacionado do outro lado da rua, e aguardo a chegada de algum funcionário.
9:00h e qualquer coisa mais, as portas se abrem, eu e mais alguns candidatos entramos em seguida e somos encaminhados para uma sala com várias cadeiras escolares.
Mais alguns (vários minutos e entra uma "entrevistadora" pedindo desculpas pelo atraso e justificando com algum papo, que não lembro bem mas, era algo sobre a pessoa que tinha que iniciado o processo de seleção não pode estar presente e ela continuaria a seleção.
Por sorte a entrevistadora resolve fazer uma conferência se todos os que deveriam estar presentes já chegaram.
Começa pelo canto direito dela perguntando:
- Qual o seu nome?
- Fulado de Tal
- Ok!
Aponta para o próximo que informa
- Sicrano
- Ok!
E assim a conferência prossegue, até chegar o meio da sala, onde estou e apontar para mim.
Informo:
- Márcio Richarde Eiras
- Como?
(isso não ta me cheirando bem. Penso eu)
- Márcio Richarde Eiras ... Richard com "E" no final e o Eiras é E, I, R, A, S,
- Seu nome não está na lista!
- Mas eu recebi uma ligação ontem, da Beltrana, falando para estar aqui!?
- Espere um pouco, vou conferir lá na recepção e já volto.
Enquanto isso, estou eu lá sentado, mantendo meu metabolismo perto do estado ALFA, e contando até mil de trás para frente, pulando os números primos, para manter a calma e não suar ou ficar vermelho e atrapalhar a entrevista.

Ela volta e informa que não conseguiu encontrar meu currículo, pergunta se tenho uma cópia.
Informa que como eu tenho uma cópia ela poderá prosseguir com a entrevista e pede para eu aguardar.
Respiro aliviado...Ufa!!!!
Essa não posso perder!
Ela chama o primeiro dos, acho que uns 8 ou 10 candidatos que estavam na sala, quando passam pela porta, tenho tempo de notar que ambos, entrevistadora e candidato, são muito altos, pelo menos muito mais altos do que eu.
Continuo procurando me distrair e ter só pensamentos positivos, quando não tendo mais o que fazer olhando somente para os meus dedos, começo a olhar para os outros candidatos.
Estar em uma sala com outros candidatos é realmente um exercício de auto controle.
Você quer matar eles, quer que eles sumam dali e tem que ficar fazendo cara de gente boa e amigo!
Continuo a vasculhar os candidatos e noto que todos, TODOS, tem mais de 1,75m.
Perfil típico de pessoas que as empresas gostam de contratar para o departamento de vendas, para ficar aquela conversa de cima para baixo com o cliente.
Nunca tive complexo por ser baixinho, mas, achei estranho eu não ter o nome na lista e ser justamente o menor entre todos.
Acho que estão levando o conceito de que os vendedores devem "tomar o mercado" muito a sério!

Chega finalmente a minha vez de ser entrevistado.
Caminho alinhado, para sala da entrevista, repassando mentalmente, todas as instruções de como devo me comportar.
A entrevista corre sem incidentes, o papo flui e as perguntas clássicas são efetuadas.
Nos despedimos, e ela reforça a promessa de que logo ligarão para informar o resultado.
Saio da empresa, sigo até o carro, entro, abro a minha pasta e pego outra cópia do meu currículo.
Olho para a foto e mato a charada.
No currículo está uma foto, que foi tirada por um fotógrafo que estava em posição ligeiramente mais baixa que eu, causando a impressão de que eu era mais alto que ele.

Não preciso dizer que nunca mais recebi uma ligação da empresa recrutadora?

Ligo o carro e saio, rezando para a gasolina não acabar na estrada.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Nextel o Walkie Talkie de gente grande



Estou sentado na praça de um shopping, entre tantas pessoas que estão próximas, noto a alegria em um rapaz ao receber uma chamada no seu Nextel.
Olhos brilhando, ele saca o seu aparelho da cintura, abre ele com apenas uma mão e segura o aparelho com a tampa levantada defronte a sua face. Fala algumas palavras e passa a ouvir o que a outra pessoa deseja falar.
Todos à sua volta também ouvem, mas, quem está preocupado com sigilo?
A satisfação de ser olhado com pelas mulheres com aquele mesmo olhar que as meninas tinham quando ele era criança, ao ouvir o Walkie Talkie dele apitar. Ver os olhares de admiração dos outros homens, olhares, também, idênticos dos meninos, quando ele chegou com seu novo brinquedo.
Bravo 6 0 8! Aqui Ranger 5, câmbio! Beep!
QAP Ranger 5, câmbio! Beep
E assim seguia o papo nas tardes de diversão, correndo pelos campos... lembranças que já estavam perdidas na poeira da memória.
Enquanto escutamos a mensagem sendo transmitida, voamos longe em nossas memórias...
Ele lembrando de suas aventuras de patrulheiro e eu...
lembrando as aventuras da Enterprise.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Campanário




Quarta 16/03/2011
10:00h

Estou em frente a uma praça, que não possui bancos,  no bairro do limão, próximo a Danúbio Azul.
O clima me faz lembrar de "Brumas de Avalon", o livro que li a alguns anos, pois o céu está cinza, e um ventinho frio e suave percorre meu corpo.
Começo a caminhar pelo bairro e enquanto caminho pelas ruas, cheia de galpões de transportadoras e construções de edifícios, avisto um campanário o que reforça ainda mais a sensação de estar vivendo um momento único. Tento seguir na sua direção mas, logo ele some em meio a neblina e as curvas das ruas tortas do bairro.
Volta e voltas e não encontro a passagem para o outro lado.
Sei que depois do quarteirão com os galpões há um campanário, mas ele, neste momento não pertence mais ao meu mundo.