domingo, 14 de fevereiro de 2016

Concretando-se


Quando mudei para esta kitnet, ouvia apenas sons da natureza.
Cachorros latindo de vez em quando.
Sons das rãs. Grilos e galos malucos.
Eventualmente ouvia a voz de um vizinho.
Com o tempo, os sons foram mudando.
Primeiro o som de música alta nos dias de final de semana.
Passado um tempo, acrescentei a orquestra, uma geladeira antiga. Com seus zumbidos de motor, periodicamente funcionando com os tilintares dos metais soltos dentro dela.
Quando já estava acostumando, instalei um relógio de parede. Com seu tchunc tchunc, tchunc a marcar o tempo.
Assim, aos poucos, os deliciosos sons vão sendo misturados aos novos. Aos sons da cidade. Sons da tão falada "civilização".
O mais recente instrumento musical adicionado a orquestra, tem apenas dois dias.
É o ar condicionado portátil do vizinho de parede.
Acrescentando um som de bafo quente, expelido pela janela. Vuuuuuuuuuuuuu, somado ao ziiiiiimmmmm do motor, ainda novo e silencioso.
Que bom que ainda consigo ouvir o som principal dos grilos.
A pergunta que tenho medo de descobrir a resposta é: Por quanto tempo ainda vou continuar ouvindo a natureza?

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Onde as classes sociais se encontram



Existe algo misterioso neste lugar onde estou morando.

Ainda não sei explicar mas, aqui, em pouco mais do que 200 metros, temos uma espetacular fusão de classes sociais.

Temos um conjuntos de 8 kitnets que, por si só, já apresenta uma variedade de moradores. Gente com piercings, tatuagens e músicas de meditação, Gente com coleção de discos antigos, do bom Rock ao MPB, Gente aposentada, chateada por não ser mais chamada para ser útil a sociedade, Desocupados, profissionais liberais, casais trabalhadores, até um metido a intelectual e escritor.

Ao lados das Kitnets, temos, de um lado, uma casa onde diz a lenda que o casal acumula lixo. Recolhendo o que encontram de interessante na rua e trazendo para a casa. Do outro, uma casa com muitos carros que nem sei como conseguem por todos eles dentro de uma garagem minúscula.

Logo abaixo abaixo, no começo da ladeira, temos uma casa com uma Mercedes e um Toyota, novos. Nesta casa, já vi sair pela manhã, vestida de roupão, uma bela mulher de aparência alemã, para orientar os trabalhos do seu jardineiro.

Na ladeira, temos de um lado um casarão de dois andares, cuja obra não foi concluída e está com o concreto e tijolos expostos. Dentro da garagem, um carro velho. Um kadet preto. Neste prédio diariamente, por volta do meio dia, o morador sai, vai até o registro de água do lado de fora da casa e mexe no registro. Comportamento curioso... Será que abre e fecha o registro em horários determinados? Por qual motivo?

Do outro lado da rua, temos barracos de madeira, sendo que, em um deles vemos instalada uma igreja evangélica. Na porta um letreiro diz. Culto toda quinta-feira. Noto que um dos moradores dos barracos gosta muito de flores. Tem várias espalhadas pelas paredes dos barracos, ornamentando a igreja e penduradas nas árvores.
Ate um lindo cacho se orquídeas bailarinas já vi florescer ali.

Voltando para o primeiro lado da rua, ainda descendo, temos um antigo pé de algodão. Uma árvore excepcional. Cultivada com sementes trazidas do nordeste, no dia que um casal, hoje de idosos, vieram para Sorocaba.

Temos um "córgo", hoje canalizado, passando por baixo da rua, lá na sua parte mais baixa.
Bem ao lado de um disfarçado bar. Onde algumas mulheres, procuram fazer um dinheiro extra, tornando o dia de humildes trabalhadores, mais feliz. Enquanto outros encontram na cachaça ou na cerveja a companhia que procuravam.

Cruzando a travessa, na esquina, um homem está construindo a casa da família, aos poucos, dentro de um valo (uma sorocaba), ao lado do leito de outro córrego. Ali já vi uma menina subir no barranco ao lado da casa, ficando na altura do telhado. Estava ela lendo uma canção, melhor dizendo, cantando a canção alegremente, como se estivesse ensaiando para uma apresentação.

Daqui de onde estou avisto coisas mais interessantes ainda.
Pelo quintal, três casas acima, vejo um conjunto de bandeira hasteadas.
Bandeiras de países conhecidos. Como Austrália e Itália e países que nem consigo identificar parecem ser 7 ou 8 ao total. Reforçam o meu pensamento de que aqui, neste local, não só as classes sociais da cidade, estão reunidas, mas, também, todos os povos do mundo.

As casas do meu lado da rua, ficam de costas para uma área de preservação, onde temos a continuação daquele córrego, que passa ao lado do barraco onde a menina cantava, ele está parcialmente canalizado. A mata ao redor deste córrego, que neste ponto, está sob a linha de transmissão de energia de alta tensão, mantém o clima mais agradável do que em outras regiões da cidade.

É também sob essas linhas de alta tensão que encontramos algumas casas parcialmente demolidas. Noto que alguém, voltou a morar em uma delas mas, fechou só os cômodos internos, deixando as paredes externas sem janelas e semi destruídas. Obviamente para disfarçar que alguém mora ali.
De noite, depois que o sol se põe é possível notar luzes e vozes de crianças que brincam alegremente, nas paredes semi destruídas daquela casa.

200 metros de rua, uma ladeira. No alto, frequentada por pessoas de vários países, no meio, eu me encontro, na parte baixa as pessoas menos favorecidas. Curioso como a geografia, aqui, fortalece o conceito de classes sociais sobrepostas.

O nome desta rua é Alameda Itália e, estou no Jardim Europa. Mais correto seria chamá-la de Alameda Mundo, do Jardim Planeta Terra.

Luminosos na janela



Embora eu esteja morando em uma conjunto de kitnets, aqui mesmo em Sorocaba, quando vou dormir sinto como se estivesse em um daqueles filmes americanos.
Sabe aqueles filmes onde as pessoas vivem em prédios antigos, que a janela do minúsculo apartamento fica bem defronte um letreiro luminoso que pisca de tempo em tempo.

Isso acontece porque, em cada um dos pavimentos (térreo e 1o. andar), temos 4 kitnets, lado a lado, unidas por um corredor. Neste corredor foram instaladas lâmpadas com sensores de luz e presença. Assim, quando é noite, sempre que alguém passa pelo corredor as luzes se acendem.

Como moro na penúltima kitinet e na última mora uma quadrilha de pequenos comerciantes de drogas, eles ficam passando a noite toda pelo corredor. A cada nova encomenda.

Assim as luzes se acendem, se apagam, se acendem e se apagam, a madrugada toda.
Entrando a claridade por entre os vidros das janelas da lavanderia, da cozinha, da porta de vidro e pelas frestas da janela do quarto.

Quem disse que pobre não pode curtir uma viagem Internacional?

Em breve vou identificar em qual filme estou e conto para você. Ok?

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Uma banheira





Foi o que ouvi da boca de uma menina, que admirada com a banheira de pedra, correu chamar a vó para ver a coisa achada.
Neste momento eu me aproximava da "banheira", para fotografa-la, mais uma vez. Agora pelo menos ela esta restaurada.
Mesmo assim, a canoa furou, levando para o fundo do rio do esquecimento, toda a historia que esta canoa de pedra representa.
Não tem problema a senhora não saber do que se trata.
Problema, está em ela nem se interessar em ler na placa, o que a "banheira" representa.
Não querer aprender e, muito menos, passar o conhecimento para neta.

Quem dedica um tempo, para contar as histórias do seu povo, para as novas gerações, é verdadeiramente  sábio.





Em tempo:
Este monumento é uma homenagem aos bandeirantes, desbravadores do território nacional, sendo para os sorocabanos o bandeirante Baltazar Fernandez o seu maior representante.
Localiza-se, na Praça da Canoa ou Praça dos Bandeirantes, perto da Rodoviária de Sorocaba e no final da Rua Voluntários de Sorocaba que fica atrás da Oficina Cultural Grande Otelo.

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Gota dágua


Cantinho ideal