quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Onde as classes sociais se encontram



Existe algo misterioso neste lugar onde estou morando.

Ainda não sei explicar mas, aqui, em pouco mais do que 200 metros, temos uma espetacular fusão de classes sociais.

Temos um conjuntos de 8 kitnets que, por si só, já apresenta uma variedade de moradores. Gente com piercings, tatuagens e músicas de meditação, Gente com coleção de discos antigos, do bom Rock ao MPB, Gente aposentada, chateada por não ser mais chamada para ser útil a sociedade, Desocupados, profissionais liberais, casais trabalhadores, até um metido a intelectual e escritor.

Ao lados das Kitnets, temos, de um lado, uma casa onde diz a lenda que o casal acumula lixo. Recolhendo o que encontram de interessante na rua e trazendo para a casa. Do outro, uma casa com muitos carros que nem sei como conseguem por todos eles dentro de uma garagem minúscula.

Logo abaixo abaixo, no começo da ladeira, temos uma casa com uma Mercedes e um Toyota, novos. Nesta casa, já vi sair pela manhã, vestida de roupão, uma bela mulher de aparência alemã, para orientar os trabalhos do seu jardineiro.

Na ladeira, temos de um lado um casarão de dois andares, cuja obra não foi concluída e está com o concreto e tijolos expostos. Dentro da garagem, um carro velho. Um kadet preto. Neste prédio diariamente, por volta do meio dia, o morador sai, vai até o registro de água do lado de fora da casa e mexe no registro. Comportamento curioso... Será que abre e fecha o registro em horários determinados? Por qual motivo?

Do outro lado da rua, temos barracos de madeira, sendo que, em um deles vemos instalada uma igreja evangélica. Na porta um letreiro diz. Culto toda quinta-feira. Noto que um dos moradores dos barracos gosta muito de flores. Tem várias espalhadas pelas paredes dos barracos, ornamentando a igreja e penduradas nas árvores.
Ate um lindo cacho se orquídeas bailarinas já vi florescer ali.

Voltando para o primeiro lado da rua, ainda descendo, temos um antigo pé de algodão. Uma árvore excepcional. Cultivada com sementes trazidas do nordeste, no dia que um casal, hoje de idosos, vieram para Sorocaba.

Temos um "córgo", hoje canalizado, passando por baixo da rua, lá na sua parte mais baixa.
Bem ao lado de um disfarçado bar. Onde algumas mulheres, procuram fazer um dinheiro extra, tornando o dia de humildes trabalhadores, mais feliz. Enquanto outros encontram na cachaça ou na cerveja a companhia que procuravam.

Cruzando a travessa, na esquina, um homem está construindo a casa da família, aos poucos, dentro de um valo (uma sorocaba), ao lado do leito de outro córrego. Ali já vi uma menina subir no barranco ao lado da casa, ficando na altura do telhado. Estava ela lendo uma canção, melhor dizendo, cantando a canção alegremente, como se estivesse ensaiando para uma apresentação.

Daqui de onde estou avisto coisas mais interessantes ainda.
Pelo quintal, três casas acima, vejo um conjunto de bandeira hasteadas.
Bandeiras de países conhecidos. Como Austrália e Itália e países que nem consigo identificar parecem ser 7 ou 8 ao total. Reforçam o meu pensamento de que aqui, neste local, não só as classes sociais da cidade, estão reunidas, mas, também, todos os povos do mundo.

As casas do meu lado da rua, ficam de costas para uma área de preservação, onde temos a continuação daquele córrego, que passa ao lado do barraco onde a menina cantava, ele está parcialmente canalizado. A mata ao redor deste córrego, que neste ponto, está sob a linha de transmissão de energia de alta tensão, mantém o clima mais agradável do que em outras regiões da cidade.

É também sob essas linhas de alta tensão que encontramos algumas casas parcialmente demolidas. Noto que alguém, voltou a morar em uma delas mas, fechou só os cômodos internos, deixando as paredes externas sem janelas e semi destruídas. Obviamente para disfarçar que alguém mora ali.
De noite, depois que o sol se põe é possível notar luzes e vozes de crianças que brincam alegremente, nas paredes semi destruídas daquela casa.

200 metros de rua, uma ladeira. No alto, frequentada por pessoas de vários países, no meio, eu me encontro, na parte baixa as pessoas menos favorecidas. Curioso como a geografia, aqui, fortalece o conceito de classes sociais sobrepostas.

O nome desta rua é Alameda Itália e, estou no Jardim Europa. Mais correto seria chamá-la de Alameda Mundo, do Jardim Planeta Terra.

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