Sentei no banco da praça Tancredo Neves, na sombra, formada pela maior árvore da praça, enquanto mato minha sede com um copo de água. O vento sopra um ar que torna tudo mais refrescante, vinha em sentido que parecia ser um sopro dos céus contra o sol, como se Deus quisesse apagá-lo, ou que ele se deitasse mais cedo.
Olhei num outro canteiro que tem vegetação mais densa e baixa e vi várias pessoas que dormiam à sombra das árvores, sobre colchões de papelão.
Agiam alheios ao barulho dos carros que passavam na rua ao lado.
Estão com aparência de mendigos, como quem vem usando a mesma roupa à vários dias.
Vejo um se levantar, cambaleando, tropeçando parece que acabou de rodopiar numa brincadeira de cabra-cega.
Percebe-se que tomaram muitas doses de pinga para não lembrarem da fome, do medo de deitar ao relento e para esquecerem que um dia sonharam que seriam alguém.
Um deles está tão embriagado que não consegue sequer ficar em pé, tendo literalmente caído ao se levantar, mas, por incrível que pareça, ele não largou uma vasilha de plástico, vazia. Provavelmente esta vasilha usada, como marmita para pedir alimento, seja seu último e precioso bem.
Acordam e sentam em roda entre as árvores, nesse momento percebo que há um líder entre eles, pois estão olhando para ele. O líder começa a falar, fazer, gestos tirando sorrisos dos demais. Pega um pacote de bolacha água e sal e começa a dividir com os demais...
Sorocaba - SP, 06 de novembro de 2000. Praça Tancredo Neves.
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