segunda-feira, 19 de abril de 2010

Comendo as Migalhas da Alta Sociedade


Sorocaba, 19/04/2010 12:34h
Campolim

Como a empresa onde estava trabalhando fechou a mais de 20 dias, uso meus últimos trocados para compra um lanche no Burger King.
É um dinheiro guardado no fundo da carteira, atrás dos santinhos e dos cartões de visita e que eu só deveria gastar quando fosse uma emergência.
E é!
Meu coração está agoniado e por instantes me vejo sem perspectivas de futuro.
Não tenho dinheiro, sequer, para comprar um segundo lanche, quanto mais para começar um novo negócio.
Peço meu lanche e vou para a varanda da lanchonete, que fica  de frente para a principal rua do bairro.
A lanchonete está lotada de jovens estudantes da escola particular que fica ali perto.
Com exceção de duas meninas que desistiram de ficar na fila, porque o dinheiro delas não era suficiente para comer um lanche, os demais jovens, talvez, nunca, tiveram problemas com falta de dinheiro.
Na rádio tocam músicas da década de 80, e me lembro que naquela época eu, também, não sabia o que era falta de dinheiro. Na verdade eu até tive dificuldades pela falta de dinheiro, mas, eu me divertia muito com elas.
Automóveis absurdamente caros param na porta da lanchonete para pegar os filhos depois da aula e do almoço deles.
O Asfalto está quente e liso e os pneus cantam a cada vez que o sinal abre para aqueles que estão subindo a rua.
Um jaguar passa alheio à minha angústia.
Elevo meu olhar e me perco entre as janelas das casas do condomínio.
Seus telhados limpos, suas paredes claras em tons de verde, azuis, rosas, amarelos e brancos e suas incontáveis janelas.
Um pardal e dois pontos pousam perto de mim e, passam a se alimentar das migalhas da alta sociedade.
Neste exato momento toca a música do IRA, "Envelheço na cidade..."
Enquanto na mesa ao lado, sentam uma funcionária da lanchonete e um jovem, para ele assinar o seu contrato de trabalho. Talvez o seu primeiro emprego.
Sem dúvida é um sinal para que eu me lembre que a vida sempre segue seu rumo e tudo se repete em ciclos, pois, um dia, também fui jovem e assinei o meu primeiro contrato de trabalho.
Quando começo a pensar que sou como um pombo e por isso vivo das migalhas da sociedade, pego m eu lanche e dou a primeira mordida.
A cada mastigada, vou me perdendo no sabor e esquecendo que sou um pombo, enquanto toca na rádio "Fácil, extremamente fácil..."

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