segunda-feira, 12 de maio de 2014

As Pessoas Que Encontramos nas Ciclovia





Pedalar pela principal ciclovia da cidade é uma atividade recompensadora.

Seja pelo aspecto do ganho de saúde, seja pelas pessoas que conheço e suas histórias pitorescas.

Vou apresentar, aqui, para você, algumas dessas pessoas:



Tenho o costume de pedalar nos finais de tarde, quando muitas pessoas estão voltando para suas casas, seja do trabalho ou de compras.

Aos sábados, saio bem cedo, antes do sol nascer, para percorrer trechos que em outros horários seriam muito arriscados, devido ao fluxo de veículos.

Já nos domingos, reservo as manhãs, para pedalar com algum amigo.

Cada dia tem o seu público. Uns, mais atletas, outros mais trabalhadores, ou ainda, mais "amadores", mas, é nos domingos que cruzamos com a maior variedade de tipos diferentes de pessoas.



Todo dia, passo várias vezes por um senhor que segue, do sentido centro para o parque das águas, pela ciclovia da Marginal Dom Aguirre.

Ele caminha lentamente, com sua camisa verde xadrez, calça escura e sapato marrom, traje que vejo usar, todos os dias.

É um jovem senhor, com cabelos levemente cacheados castanhos, sobrancelhas espessas, da mesma cor. Tem barba e cavanhaque.

Anda com os olhos fixos no livro que trás nas mãos e segue lendo-o em voz alta.

É uma bíblia!

Repete, ele, o hábito de antigos filósofos de caminharem lendo e refletindo sobre as palavras que ouve.



Paro somente nos cruzamentos, esperando os sinais vermelhos se tornarem verdes.

É quando aproveito para beber um pouco de água da minha garrafinha e, as vezes, esticar as pernas.

Em uma dessas paradas encontrei um senhor agitado que ia atravessando rapidamente o cruzamento, quando notou que o semáforo estava fechado.

Parou, voltou e me viu, ali, junto à grade que separa a ciclovia da mata da margem do rio Sorocaba.

Se aproximou e pediu para informar as horas.

Passei as horas e iniciamos um micropapo. Ele contou que com bike uma pessoa pode andar muito e que ele já andou muito.

Contou que certo dia, saiu de uma cidade e foi caminhando até uma outra. Que foram 200km de caminhada.

Contou que fez a caminhada, sem cansar, porque tava muito doidão, por fumar um baseado.

Ai, olhou nos meus olhos, escondidos por trás de um óculos de proteção escuro, um boné verde sobre a cabeça, o cavanhaque e o bigode já grisalho e teve um momento de receio.

Perguntou se eu era polícia.

Afirmei que não era e ele, voltou a falar alegre como antes, seguindo o seu caminho.



Encontro um senhor com seu conjuntinho training, azul com listras brancas, cabelo penteado, perfumado, acabou de tomar bano, cara de executivo, passeando com seus dois cachorros.

Tomo distância de segurança dos cachorros, olho para ele e digo: - Boa Noite!

Ele nem responde, sequer olha para mim!



Passos à frente, encontro outro senhor, agora, um pedinte, roupas velhas, sujas, surradas.

Ele tem um pedaço de pão na mão e um copo de leite.

Olho para ele e digo: Boa noite!

Ele olha para mim, faz um gesto retribuindo meu boa noite e me oferece o que tem na mão. O leite e o pão.

Agradeço e seguimos nossos caminhos.



Depois, encontro um outro senhor, em um semáforo, super concorrido de pedintes, malabaristas e limpadores de parabrisas. Ele está muiiiiiitchooo doiiiiido, (deve ter fumado crack), olhos arregalados, e me chama para contar uma história de que veio de Manaus, tem problemas familiares, me pede "10 centaho", e fala: - Tá vendo? Eu não tô mentindo pra você!
Arruma 10 centaho?!

Ouço ele com atenção, mas informo que não tenho um único centavo no bolso. O sinal abre e, sigo meu caminho.



Fico observando tudo ao meu redor. Muitos fatos colho aos pedaços, conforme vou e volto pela mesma pista, juntando os cacos, confirmando teorias ou reformulando minha opinião sobre o fato.

Vejo coisas que me parecem estranhas e, para os personagens das cenas, parecem tão normais.



É o caso do namorado ou marido, que segue na frente, no cruzamento, com a atitude clássica de homem de querer saber tudo e ser seguro dos atos, atravessando ruas, mesmo com sinais vermelhos, pois, vai dar tempo de cruzá-las. Ainda mais seguro, por já demonstrar usar a bike à algum tempo.

Ao passo que, a namorada ou esposa, está lá atrás no primeiro cruzamento, se borrando de medo de atravessar as ruas. Mesmo empurrando a bike, demonstrando total insegurança ou até insatisfação com o tal "programa de domingo".



Também, não entendo como um pai ou uma mãe, pode pedalar na frente, deixando o filho ou os filhos pequenos para trás.

Nos tempos antigos, quando as pessoas caminhavam pelos matos, sim, essa era a atitude correta.

O líder, chefe, ou batedor ia na frente. Pois, via de regra, os perigos (animais ou ataques de outras pessoas) aconteciam pela frente.

Ele ia "limpando" e reconhecendo o caminho, para segurança dos que estavam atrás.

Hoje não é mais assim que deveria ser.

Os maiores perigos, vem por trás.

Crianças podem ser subtraídas, silenciosamente, ou podem se machucar, sem que os pais percebam, ou quando perceberem, já aconteceu.

Quando vejo esta cena, sempre lembro daquele depoimento para a TV, do pai que estava feliz porque a Prefeitura dá aulas de "Como andar de bicicleta" paras as crianças, lá no parque das águas, porque, segundo ele, ele não tem hoje em dia, nem tempo, nem paciência de ensinar sua filha a andar de bicicleta.



Vejo pessoas carrancudas, apertando seus guidons de bike ou de moto, seus volantes de carros e até mesmo, apertando o passo quando andam à pé, ao cruzarem com outras, como se sentissem violadas nos seus espaços. Fazem caras para lembrar o outro que são as "donas" do espaço.
É uma disputa tola por quem passa na frente de quem. Todos tentando ganhar míseros segundos, a mais, em suas vidas sem graça.

Talvez um dia descubram que alguns segundos à mais, investidos em um cruzamento, pode resultar em muitos anos de vida extras.



Catadores de sucata (antigamente, eram catadores de papel), com seus carrinhos enormes, também, são uma constante.

Meus contatos com eles, tem sido muito positivos.

Um deles me agradeceu (já devo ter relatado isso em outro momento), por ter apenas ouvido o pedido dele.

Estava com sua família, puxando um pesado carrinho de sucata, no fim de um longo dia. Pediu minha atenção para pedir uma ajuda. Como não tinha como ajudá-lo financeiramente, ele me agradeceu por não ter tratado ele e a família dele com dignidade.



Fico preocupado com quem anda pela contramão ou, não sabe em qual faixa deve estar. Porque sei que ou correm risco desnecessário de se machucarem ou de causar algum acidente para quem não os perceber no meio do caminho, mas, o que posso falar de um catador de sucata que está as sete horas da noite, puxando um imenso carrinho, pela ciclovia, em um trecho em que a única alternativa seria andar na rua, no rush, pela contramão, já que a mão de "ida" fica do outro lado do quarteirão e é uma subida?



Também paro muito para ajudar as pessoas, seja para empurrar um carro quebrado até uma área de segurança, seja para consertar uma bicicleta, remendar um pneu.

É bom ajudar!

Deixa a alma mais leve.



Um comentário:

  1. Gostei, di fato gostei... Não vou dar nota 10 becouse nem pra o Deus, da maioria das pessoas , darei .

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