quinta-feira, 16 de novembro de 2000

Pregando aos quatro ventos

Um jovem pregava a palavra de Deus, os passantes o consideravam doido e não o olhavam,nem mesmo paravam para ouvi-lo falar.
Ao seu lado direito uma roda enorme se formava para ver dois rapazes fazendo uma performance popular, malabarismos, truques de mágica etc, para vender um pacotinho de pó de catuaba com guaraná que rendia 1 1/2 litro de energético e remédio para mais de uns 50 males.
Ao lado esquerdo, dois garotos com uns 8 anos castigavam seus violões e o ouvido dos pedestres, cantando e as pessoas mesmo assim, davam um trocado.
Acho que até davam dinheiro de dó, pensavam assim "tadinhos com essas vozes vão passar fome!".
Sentado ao me lado estava um senhor, camisa estampada, manga curta, calça preta social, sapato e meias pretas, no bolso esquerdo tinha um guarda chuva, enfiado dentro, não sei como, mas conseguiu colocá-lo dentro. Só sei que era possível ver o cabo do guarda chuva ali no bolso.
Chegou um conterrâneo seu e começaram a conversar não prestei muita atenção mas mesmo assim, acabei ouvindo parte da conversa:
- Olá amigo, bla, bla bla bla.
- Tudo bem! Amigo, bla bla bla... dormindo Banco do Brasil.
- Banco do Brasil?
- É frente Banco do Brasil dormindo, bla bla bla.
- Até amigo!
- Até.
E seguiram, cada um para um lado.
Vejo um furgão da TV, parado ao lado da igreja. Está arguendo sua torre de transmissão.
Logo chegaram umas vãns com o que parece ser um grupo de coral formado por seminaristas e freiras, devem ter alguma missa especial na igreja.
Sentou ao meu lado uma garota, deve ter seus 15, 16 anos. Estava com um sorvete de casquinha na mão e creio que ela resolveu se divertir um pouco comigo ou estava "dando mole" para ser convidada para fazer um programa, pois, ajeitou os cadernos sobre o colo, virou-se lentamente para o meu lado e passou a chupar o sorvete de forma provocadora. Daquela forma que as meninas quando estão virando mulher, sabem fazer bem.
Ora lambia com a lingua, ora enfiava a casquinha toda na boca, sempre passando um segundo sentido.
Assim foi até acabar o sorvete, quando se levantou, sorriu e foi embora. Talvez decepcionada por não ter conseguido minha atenção.
Logo os homens do grupo começam a tocar na escadaria da igreja.
Se eu fosse mais religioso, talvez, pudesse afirmar que o diabo estava ali ao meu lado zombando dessa tarde de canticos religiosos!

Sorocaba, 16 de novembro de 2000.
Praça Fernando Prestes

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